BARRAS
DE OURO NO MEIO CIRCULANTE BRASILEIRO
(reproduzido
da revista do Circulo
Numismático de Rosário, Argentina,
edição XV,
maio de 2009)
Num período da história
brasileira, o meio circulante de algumas localidades da região mineira além de
moedas foi composto por barras de ouro. A legislação registra e o objetivo
desse proceder era evitar a circulação do ouro em pó e cobrar imposto quando da
confecção da barra na casa da fundição da localidade. Após o processo de
fundição, a barra recebia marcas que identificavam o local, o ano, o número de
seqüência, o monograma do ensaidor, o título do ouro, o tipo de verificação do
título e o peso. Ilustração 1.
Após esse processo, a barra
estava apta a circular como moeda com o valor circulatório informado por
documento oficial o qual deveria acompanhá-la. Com o passar do tempo, essa
“moeda exótica” parou de circular e a maioria foi derretida.
Coube a numismática, como
ciência auxiliar da história, fazer o registro dos poucos exemplares que chegaram
até nossos dias. Indico o estudo de Kurt Prober, Ouro em Pó e em Barras Meio Circulante
no Brasil 1754-1833 2 vols, Rio 1990, como a melhor fonte de referência
sobre esse assunto.
Em 2006 atualizei[2]
esses informes conforme intercâmbio de informação com Kurt Prober. O total
passou de 209 para 218 barras conhecidas e autênticas.
Nessa ocasião atualizei
também a bibliografia que trata desse tema conforme segue:
Kurt Prober, Ouro
em Pó e em Barras Meio Circulante no
Brasil 1754-1833 2 vols, Rio 1990.
Claudio Schroeder, Leituras Numismáticas do ano de 1990- (registro de lançamento do livro
de Kurt Prober.
Ouro em Pó e em Barras Meio Circulante no
Brasil 1754-1833). Com comentários e adendo de algumas informações novas. Porto Alegre, 1991. In Rio Grande Numismático,
SGN, pp.13-25.
Alain Costilhes, Brazilian Gold Bars. Italiam Fato Profugi - Numismatic studies
dedicated to Vladimir and Elvira Eliza Clain, Stefanelli, Louvain-la-Neuve, 1996, pp. 97-108.
Sotheby’s,
Brazilian Gold Currency Bars, London
1997.
Carlos Marques da Costa, Barras de Ouro do Brasil, Lisboa 1998. In Actas do IV Congresso
Nacional de Numismática. Associação Numismática de Portugal, pp. 331-344.
Carlos Marques da Costa, As Barras de Ouro do Brasil - Sua ordenação em catálogo, São Paulo
2000. In Atas do Primeiro Congresso luso-brasileiro de Numismática. Etapa São
Paulo, Banco Itaú, pp. 17-32.
Hans Kochmann, Estudo
e Classificação das Barras de Ouro Brasileiras. 3 volumes, n.p., Itaú
Numismática - Museu Herculano Pires, São Paulo 2005. (Estudo, ainda inédito,
que foi utilizado e citado por Prober. Obtive uma cópia, em 2005, por gentileza
do autor e da direção do Museu.).
Alain
Costilhes, Revising brazilian gold bars.
in: Carmen Alfaro, Carmen Marcos y Paloma Otero: XIII Congreso Internacional de
Numismática, Madrid 2003. Actas - Proceedings - Actes, Madrid 2005, 1, pp. 1465-1469. (falecido
em São Paulo, 20.11.2003).
Nessa comunicação a ser
divulgada pelo CIRCULO NUMISMATICO DE ROSARIO faço nova atualização no total de
barras conhecidas e autênticas: de 218 para 219.
Esse exemplar recentemente
descoberto é da Casa da Fundição de Mato Grosso, 1817, n 667 e faz parte da
espetacular coleção numismática de Carlos Marques da Costa adquirida pelo Banco
Espírito Santo, com sede em Lisboa, Portugal.
Reunida ao longo de mais de
trinta anos de dedicação e procura a coleção é composta por mais de 13.000
moedas de Portugal e colônias (com especial destaque para a Índia Portuguesa,
Brasil, Moçambique e Angola), estrangeiras, principalmente tipo Taler, notas de
banco e cédulas. Nessa espetacular coleção numismática destaco em especial a
existência de 36 barras de ouro brasileiras, sendo duas com guia.
A coleção está registrada no
livro Colecção Banco Espírito Santo
(Colecção Carlos Marques da Costa) de Javier Sáez Salgado e José António
Godinho Miranda, Edição do BES, Lisboa maio de 2008, 302 paginas.
Durante o final do período
do Ciclo do Ouro, poucas eram as casas da fundição de ouro ativas. Relaciono a
seguir por região as casas da fundição informando o total de barras
autênticas conhecidas hoje.
Província de Goiás.
Casa da fundição de Goiás 30 barras conhecidas período 1790
a 1823.
Casa da fundição de São Félix 1 guia sem barra período 1773.
Província de Mato Grosso.
Casa da fundição de Mato Grosso 21+1 barras conhecidas
período 1784 a 1820 (atualização).
Casa da fundição de Cuiabá 9 barras conhecidas período 1821
a 1822.
Província de Minas Gerais.
Casa da fundição de Rio das Mortes 7 barras conhecidas
período 1796 a 1818.
Casa da fundição de Sabará 85 barras conhecidas período
1778 a 1833.
Casa da fundição de Serro Frio 21 barras conhecidas período
1809 a 1832.
Casa da fundição de Vila Rica 44 barras conhecidas período
1794 a 1818.
Casa da fundição de Ouro Preto (Vila Rica) 1 barra conhecida
período 1828.
Folheto explicativo do Banco Central do Brasil. Após o processo de fundição, a barra recebia marcas que identificavam o local, o ano, o número de seqüência, o monograma do ensaidor, o título do ouro, o tipo de verificação do título e o peso. O exemplar ilustrado é da Casa da Fundição de Vila Rica, 1799, n 3265.
[1] Claudio Schroeder é
graduado em Informática e funcionário da Companhia Estadual de Energia Elétrica
do RGS, Brasil. Pesquisador da numismática, brasileira e parte da sul
americana, com maior ênfase à bibliografia e a medalhas militares. Sócio de
clubes numismáticos brasileiros, colaborando em suas publicações. Redator do
Boletim Rio Grande Numismático da Sociedade Gaúcha de Numismática de Porto
Alegre. Participa de encontros de numismática como palestrante.
[2] Comunicação apresentada no IV Congresso Latino-americano de Numismática, SNB, São Paulo 2006.