A DESMITIFICAÇÃO DA NUMISMÁTICA

(isto é uma provocação)

 

Pedro Pinto Balsemão

 

 

Há uns tempos atrás, escrevi um texto, cujo título era: “As imitações e suas consequências”.

Agora estou me questionando: como anda a numismática em nosso país?

Onde se encontram os verdadeiros numismatas? Estarão eles em extinção?

São perguntas que se impõem quando de nossos encontros, palestras e reuniões.

 

No ano de 2002, quando do 1º Congresso Luso Brasileiro de Numismática, realizado em Brasília, chegamos a discutir tal tema, tanto que a chamada do referido Encontro era o título acima. Então cabe bem a pergunta: trata a numismática de MITOS? Ou melhor: será a numismática considerada MITO? Primeiro é preciso esclarecer o significado da palavra MITO: mito é o produto de nossa imaginação, então criamos nossos próprios mitos; imaginamos uma moeda não como um produto histórico, mas sim como algo fabuloso que foi feito não para ser tocado, admirado, estudado, mas sim, para ser guardado a sete chaves sendo este produto proibido de ser mostrado aos outros, sendo então por nós escondidos, impedindo de ser visto. Tenho mas não mostro, mais ou menos assim.

 

Voltando às imitações, são estas criticadas, principalmente, pelos negociantes, pois entendem estes serem as imitações uma farsa, não sendo permitido, muito menos aceito, sua utilização, quer dizer: não sendo verdadeiro, não é válido. Aí está constatada a idéia do MITO. Mas se eu não tenho condições de adquirir uma peça legítima muito rara que, por conseguinte, é muito cara, por que não posso ter uma imitação ou dizendo melhor, uma réplica da original, para que eu possa ver como é aquela peça tão rara? Não é a obra de Da Vinci, Monalisa, tão imitada? Ou seria preciso ir ao Louvre para admira-la e conhece-la? Acabo de registrar um exemplo do que é um MITO. Pois sendo assim: comprei uma coleção de moedas americanas, meras imitações que são as fotografias metálicas daquelas peças impossíveis de serem por mim adquiridas. São as mesmas de uma perfeição tal que me permitem ver todos os detalhes, são cópias fieis das originais, compradas por preços ínfimos e que nos dão também prazer em olha-las mesmo sabendo que são “FALSAS”. Importante: não fomos ludibriados, não estamos comprando gato por lebre. Assim: acabei com aquele MITO.

 

Como gravador que sou e bastante familiarizado com diversos tipos de cunhagens, resolvi há uns tempos gravar e cunhar algumas réplicas das moedas mais raras da coleção brasileira, começando a mostrar aos mais entendidos minhas cunhagens e me atrevo a dizer: fui aprovado. Me entusiasmei e me firmei naquilo que me propus: só replicar peças realmente raras. Quando vi pela primeira vez as peças vindas do exterior achei-as lindas e não vi mal algum em compra-las, mas não as recomendo, só recomendo as minhas...rsrs

 

Mas voltamos ao MITO: foi recentemente editada por um grande colecionador paulista, uma linda, mas limitada obra, só 30 volumes distribuídos para alguns amigos e entidades relacionadas a nossa numismática, tive a satisfação de ter em minhas mãos um desses volumes que me foi emprestado por um desses privilegiados companheiros: meus amigos, que maravilha! Que extraordinária coleção. Ali estão fotografadas e catalogadas em colorido as mais importantes e raras moedas da coleção brasileira, incluindo várias medalhas também raras. Aí está um exemplo do que pode ser considerado um verdadeiro mito de nossa numismática, pois geralmente quem possui algo parecido, não mostra para ninguém. Está, portanto, esse Senhor dando uma demonstração de desassombro, vindo a DESMITIFICAR a nossa numismática. A este eu parabenizo por seu desprendimento e coragem.

 

Volto mais uma vez dar exemplo de mitos: fui convidado há uns anos atrás, por uma entidade bancária de outro estado, para fazer uma série de cópias de moedas diversas, ou seja, tanto do Brasil como do mundo todo. Agora eu pergunto: qual o mal de uma entidade fazer cópias para exibi-las ao público que então poderia, ou melhor, dizendo poderá ver réplicas e não as verdadeiras, que estão entesouradas nas caixas fortes de suas casas bancárias pelo alto valor que elas representam tornando-se então mitos e mitos não se enxergam, pois são frutos de nossa imaginação.

 

Mais um exemplo de um mito: quando em nossas VO, são nos oferecidas peças de alto valor, vejam que eu digo alto valor, são estas consideradas ou não um mito? Pois acabam de sair de uma fortuna para entrar noutra. É ou não é uma fábula? Vamos citar aqui, alguns exemplos de fatos fabulosos e bem recentes: foi vendida nos Estados Unidos uma moeda brasileira de 500 réis de prata do ano de l887 pela bagatela de US$ 52.000,00. Foi vendida também nos USA, uma moeda de um dólar 1795 por US$ 1.200.000,00. Agora em um leilão na cidade de SP, está sendo apregoada um 640 réis por R$ 110.000,00. Assim temos que admitir estarmos diante de alguns MITOS, ou não?

 

Deixemos então de sermos imaginários, vamos encarar a história de nossas moedas sem fábulas, sabemos que elas existem, algumas não podem ser por nós tocadas, e muitas vezes nem vistas, então precisamos de uma fotografia para conhecê-las e, é claro, se tivermos uma perfeita réplica, aí sim fica tudo muito melhor.