AS IMITAÇÕES E SUAS CONSEQUÊNCIAS
Pedro Pinto
Balsemão
Há poucos dias atrás, li em algum lugar sobre um “expert” que foi enganado ao identificar uma peça rara em uma loja de antiguidades na Europa. O cara “pagou o mico” junto à dona da loja. Há quinze anos, quando comecei a fazer as minhas primeiras réplicas, tratei desde logo de identifica-las para não ter problemas no futuro. O tempo foi passando e com muito afinco e coragem segui fazendo novas e mais perfeitas réplicas que eu enviava aos meus colegas e amigos para obter opiniões sobre meu trabalho. Recebi inúmeras manifestações de todo o território brasileiro e em todas tive o apoio e incentivo para continuar.
Mas, afinal – ao que exatamente eu estava me propondo? Qual o meu objetivo? Estaria eu pensando em ganhar dinheiro com isso? Não. Nada disto. Minha intenção era divulgar, estimular o colecionismo de moedas, chamar a atenção das pessoas para a beleza e a importância de nossas moedas, que contam um pouco da história de nosso país. Minha primeira réplica que julgo importante foi a “Peça da Coroação” – D. Pedro I, 1822R. Em seguida fiz o 960 réis 1809 R, peça única conhecida. Logo adiante dentre muitas outras, fiz também réplica das “Três Cabeças” da República (1891/1896/1897). Com estas, fui projetado nacionalmente no meio numismático a ponto de receber correspondência dos mais ilustres expoentes da numismática brasileira, (alguns, infelizmente já falecidos) cumprimentando-me pela perfeição do trabalho. Embora a aprovação para o meu trabalho não tenha sido unânime, pois algumas pessoas manifestaram-se, ainda que timidamente, contra, não desisti do meu projeto.
Hoje, felizmente, sou reconhecido e respeitado no meio numismático, entretanto, algumas observações “espirituosas ou não”, muitas vezes são colocadas numa roda de conversa entre companheiros. Por exemplo: “Se o Balsemão tivesse más intenções com suas réplicas, causaria sérias controvérsias no meio numismático” ou “Como todo o bom artista, este gravador ficará famoso, mas, naturalmente, após a sua partida, deixando suas peças serem disputadas pelos ávidos comerciantes, que aí sim tratarão de valoriza-las ao máximo”.
Vale ainda esclarecer: Porquê réplica de tal ou qual peça? Qual o critério adotado para fazer este trabalho? As peças que me proponho a replicar são, muitas vezes, únicas ou raras, que se não estão em mãos de alguns colecionadores, poderão ser vistas apenas em museus ou em fotografias. A réplica tem o propósito de aproximarem-se o mais possível da peça original, porém sem qualquer comprometimento, pois elas são, invariavelmente, identificadas em seu propósito.
Agora vamos tratar de outras imitações; aquelas que são feitas com o sentido iminente de enganar, tirar proveito – vejam que não menciono falsificações e sim imitações. São peças de todos os tipos, de marcas e grifes famosas – desde porcelanas, cristais, marfins, biscuit, até roupas, calçados, etc. Agora, chegou a vez das moedas. Vindas do exterior, estão causando verdadeiro estardalhaço nos meios numismáticos. Há um ano atrás, comprei de um comerciante, duas peças de “prata” – 2.000 réis 1867/1886, oferecidas esclarecidamente como “falsas”. Comprei sabendo. Queria comparar e ver a que ponto poderia chegar a semelhança com uma original. É de assombrar a perfeição da imitação.
Recentemente um amigo esteve nos Estados Unidos e de lá me trouxe um 4.000 réis de 1900, famosa peça comemorativa de nossa numismática. Linda e perfeita imitação. Alguns dias mais tarde, em nosso Encontro Numismático em Porto Alegre, eis que vejo algo estarrecedor em matéria de imitação: mais um 4.000 réis e os dólares norte americanos dos séculos XVIII e XIX, com a coleção inteirinha num belo álbum cuja capa também era de uma imitação perfeita de couro, que faria “Luster babar”, pois o estojo referido talvez valesse mais ainda do que as próprias peças. As especificações escritas, evidentemente em inglês e garantindo serem as peças em prata 900. Não tive dúvida: de posse de uma peça de 4.000 réis 1900 fui à procura, ali mesmo próximo ao encontro, de um chaveiro que pudesse corta-la ao meio. O chaveiro não queria fazer o serviço, com pena de estragar uma peça “tão bonita e cara”. Tive que argumentar muito e então ele concordou em cortar a peça e assim pudemos confirmar o que eu já suspeitava: Não se tratava de prata coisa nenhuma e sim de um latão (cobre + zinco) ali debaixo daquele “prateado”. Então todos os presentes ao evento puderam constatar o “blefe”. Se estas peças vêm da China, eu não sei, só sei que são tão perfeitas que podem enganar aos menos avisados, portanto... E o preço é ainda mais estarrecedor. Segundo os participantes do “Mercado Livre”, estas peças podem ser adquiridas por bagatelas.
E agora, o que fazer? Processar os imitadores? Apelar para a “Corte Internacional” ou irritarmo-nos? Não, nada disto. Vamos encarar estes fatos com naturalidade, sabendo que jamais poderemos impedir esta prática no mercado. Vamos sim, ficarmos atentos e chamar a atenção de todos os interessados para terem cuidado, pois o trabalho é tão perfeito que pode enganar a qualquer um. Entretanto, alguns detalhes podem ser o “divisor de águas”: O peso da peça será exatamente igual ao peso da peça original? O preço oferecido é o praticado no meio numismático? Há um consenso na média de preços? Às vezes nem pelo peso é possível decifrar uma verdadeira de uma falsa. A peça que adquiri, ciente de que era falsa, tem o peso muito aproximado da verdadeira. A imitação é tão “perfeita” que a criatividade dos “inventores” vai desde uma moeda BG, UG, BC e aí por diante. Não foi esquecida nem mesmo a pátina... Então, nós, que nos consideramos verdadeiros numismatas temos o dever de reconhecer uma peça falsificada, imitada ou replicada.